
Protetor solar e recifes de coral: uma ameaça invisível à vida marinha
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Uma joia ameaçada sob as ondas
Com as suas cores vibrantes e riqueza biológica incomparável, a Grande Barreira de Coral é um tesouro ecológico. Todos os anos, atrai mergulhadores, fotógrafos e visitantes curiosos, todos maravilhados com este fervilhante mundo subaquático. Tartarugas, peixes multicoloridos, dugongos: a vida fervilha aqui. Mas este esplendor esconde uma fragilidade alarmante.
À medida que as temperaturas sobem e os nossos hábitos deixam rastos químicos na água, os corais perdem o seu brilho. Entre os culpados, muitas vezes ignorados, estão os protetores solares. Invisíveis e persistentes, os seus resíduos químicos afetam silenciosamente o ecossistema.
Como os filtros UV danificam os corais
Quando aplicamos protetor solar, parte dos filtros UV passam para a água, seja diretamente durante o banho ou mais tarde, no duche. Os aerossóis, por outro lado, libertam partículas que acabam na areia e, depois, no mar. Como resultado, milhares de toneladas de produtos químicos chegam aos oceanos todos os anos.
Estes filtros, como a oxibenzona ou o octinoxato, perturbam as funções biológicas dos corais. Dificultam o seu crescimento, interrompem a sua reprodução e promovem o seu branqueamento, um processo fatal que os priva da sua fonte de energia simbiótica.
E não é só isso. Estes compostos também afetam os peixes, os moluscos e os crustáceos. Stress oxidativo, distúrbios hormonais, malformações: as consequências são múltiplas e muitas vezes irreversíveis.
Poluição invisível… e persistente
A toxicidade dos filtros UV não cessa após a sua dispersão. Mesmo após serem enxaguados ou passarem por uma estação de tratamento de águas residuais, persistem. Pouco biodegradáveis, resistem aos tratamentos convencionais como a ozonização. Como resultado, acumulam-se nos ecossistemas marinhos, contaminam os solos através da dispersão de lamas de águas residuais e, por vezes, infiltram-se nas culturas alimentares.
A escala do fenómeno estende-se para além das áreas turísticas. Concentrações preocupantes de filtros UV foram encontradas mesmo em áreas isoladas. Isto prova que esta poluição se estende muito para além das praias populares.
Que efeitos na cadeia alimentar?
Ao penetrarem nos organismos marinhos, estes filtros interrompem a cadeia alimentar. Os peixes expostos sofrem uma diminuição da fertilidade. Nos invertebrados, observa-se imunossupressão. E, à medida que estes compostos se acumulam, podem subir na cadeia alimentar, chegando até aos nossos pratos.
Faltam ainda dados para avaliar completamente os efeitos na saúde humana. Mas os sinais de alerta multiplicam-se. A vigilância é essencial.
Existem alternativas: vamos adotá-las
Boas notícias: é perfeitamente possível proteger-se do sol sem prejudicar os oceanos.
Veja como:
- Utilize protetores solares minerais, à base de dióxido de titânio não nanopartículas ou óxido de zinco.
- Dê preferência a roupas com proteção UV, principalmente para crianças, banhistas regulares ou pessoas expostas ao sol por longos períodos.
- Evite os aerossóis, que libertam quantidades excessivas de produto para o ambiente.
- Consulte os guias de protetores solares ecológicos, atualizados regularmente por laboratórios independentes.
- Escolha destinos que incentivem o uso responsável de protetor solar (distribuição de amostras, comunicação no local, informações sobre os locais de reserva, etc.).
E amanhã?
Está a surgir legislação para proibir os filtros UV mais nocivos. Mas a sua adopção continua lenta e desigual. A protecção dos recifes de coral não depende apenas dos governos; também começa pelas nossas escolhas de consumo.
Proteger a nossa pele nunca deve ser feito à custa da vida marinha. Os recifes de coral são os pilares de uma biodiversidade excecional e de um equilíbrio frágil. Cada ação conta. E simplesmente escolher um creme que respeite a natureza pode ser um pequeno passo para nós... mas um grande impulso para o oceano.